sábado, 1 de novembro de 2008

Lar dos desavisados

Quando a porta bate o cão deixa escorrer o sangue pelo rosto. Molho o corpo e esqueço o fim dos objetos mortos. Torno-me meu anseio. Por vezes a raiva é tamanha que sua contenção é necessária para que todos possam continuar a dar voltas sobre si próprios enquanto um padece dentro de seu travesseiro sujo e gasto. Frente aos desesperos já cansados e às preocupações já redundantes ainda me dão um lugar ao qual não tenho interesse de ocupar. É girando dentro dos sonhos duros de serem comentados que carrego as cruzes não só sobre ombros, mas por toda vida. Se mesmo queimando em prantos, os lares, as onças e os gafanhotos tiram-me o pequeno sossego é porque o gato deixou que o rato comesse o queijo embolorado. Não há como se desvencilhar. Na cama onde as costas procuram por um bom descanso é que os medos e as dores do mundo recaem nos olhos. Olhos nutridos por um querer máximo de deixar o furacão acabar com os outros e ver o quão belo poderia ser a vida quando novamente, depois da reconstrução, a calmaria se instalasse. Nuvens se formam. Frestas se abrem e como em um conto sádico de nuances fantásticas a lagarta se estica debaixo do sol pra comer a borboleta que brigou com o esquilo pela posse de um espaço no galho e teve suas asas cortadas. A lagarta se empanturra. De volta a casa, sinto que não há lugares para se esconder ou para se acalmar. Não há. E a vontade de chorar e de gritar perdura. Imaginem um sofrer eterno. Transponham-se para lá e deixe que ele se instale por alguns segundos. Imaginem-se como a borboleta que não podendo se mover percebe se aproximar a lagarta com a boca cheia de água por seu corpo suculento. Não falo de sexo, falo de canibalismo, pois quer queira quer não a lagarta tornar-se-á, mais dia menos dia, em borboleta. Sinta a proximidade do horror chegando. Agora deixe disso e pense em sexo. Talvez eu precise de mais sexo. Talvez de mais álcool. Talvez eu precise ser um pouco mais àquele de outrora com todos os demônios expostos na roda.. Tanto faz. Eles não ligam de se exporem e acho que eu tão pouco. Mentira. Se pudesse me revelar em uma palavra talvez esta seria “contido”. Contido nas lembranças. Contido no caminhar. Contido no dançar. Contido no enlouquecer. Contido no chorar. Contido no extravasar. Contido no sofrer. Contido na escuridão. Contido no viver. Não sei ainda, mesmo depois de tantos anos, usar com exatidão minha mão. Masturbação?! Não! Escrita e violão. Vendo meu mundo em suaves prestações. Todas por apenas zero centavo de real. Isso é que é oferta. 100% off. Veja! Logo ali... meu lar a ruir.