cabeças ao redor
encolhem
recolhem
clamam pelos pescoços soltos
vieram três corpos
todos perdidos
atabalhoados
não havia nada acima do dorso
um deles foi ao chão
buscou a perna do outro, que
parou, ajudou-lhe a erguer
seguiram como corrente
suas cabeças estavam em minhas mãos
cobria-lhes os olhos
assustariam se vissem suas partes a procurar
assustaram-me
o que fazer com aquilo?
o sangue estancado
os cortes precisos
seria preciso algo...
meus olhos tremiam,
sem chorar ou gritar,
percebia a inquietação no ranger dos dentes,
na aceleração do piscar.
deixo-as aqui?
entrego-as em mãos?
suporto?
tenho algum tempo até passarem.
caminho até os corpos
e coloco, cuidadosamente, as cabeças no chão
estão no meio do caminho
mais dois passos... tropeçam
deixo e assisto de longe
os corpos caem
todos os três
todas as cabeças olham fixas para eles, como quem faz um pedido
subo em uma árvore
de cima a visão é ainda mais onírica
rastejam até as cabeças
tateiam-as, como para saber se são suas e, então, descartam... uma a uma
sofro com a dor daqueles que não se pertencem
desço da árvore
calmo
junto as três e levo-as comigo
em casa, no quarto, deito com elas
perguntas fiz, mas não podem pronunciar uma só palavra
lhes faltam o ar, lhes faltam o restante da traqueia
lhes faltam todo o resto
disfarço o desconforto
vou à cozinha
volto com três facas afiadas
uma para cada uma
pego uma seringa
dissolvo 70mg de Valium para cada uma delas
injeto em suas fontes... elas, agora, dormem para sempre
quanto a mim, tento extrair de suas íris um pouco de vida para injetar na minha
domingo, 4 de agosto de 2013
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