sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sussurros no poente

Na virtude dos passos
o calcanhar invertido anda pra trás
as pernas tentam avançar
e os pés lamentam não obedecer

Na esquina a senhora deita a cabeça
No semáforo as bolas são jogadas para o alto
Abaixo da marquise o papelão serve de cobertor...
os olhos vêem, mas os calcanhares travam

Embora haja leveza, não há sustentação alguma
o corpo cambaleia na imensidão inóspita do âmago
o ser não cai diante do medo
onde nada existe o espaço não pode ser preenchido

O discurso tautológico permeia a ausência
Ausência de vida
Ausência de perspectiva
Imensidão de letargias

Na falta brotam efemeridades
e os devaneios ricos são arrefecidos pela pobreza de conteúdo
A escravidão do consumo retira o ímpeto transformador
Artes são consumidas, não experienciadas

O ser permanece estagnado
Nos passos a vida anda
mas ao se olhar para trás...
enxergam-se os mesmos fantasmas.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cama Surta

dorme vida!
com gostos e sabores...

dorme vida!
com desejos e defeitos...

dorme vida!
com luxúria, prazer...

dorme vida!
com angústia e desespero...

dorme vida!
com mágoa e agonia...

dorme vida!
com sinônimos e heterônimos...

dorme vida!
com bouquet e lástimas...

dorme vida!
com feridas e cicatrizes...

dorme vida!
com fumaça e putrefação...

dorme vida!
na vida e de dia...

dorme vida.
assim,
escondida.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Na rima final (trecho)

sonhei com a morte,
passei dias e dias
pensando se...
eu teria algo a lhe dizer

desci do céu
e de lá ela desceu.
desci do inferno e do inferno...
ela brotou.

chupou com ardor
disse que a comida...
era merda,
se lambuzou.

comi seu rabo...
sujo fiquei,
de pau duro...
gozei.

nada supera o transe
o alívio da tormenta vêm
em forma de...
boceta.