segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Fastasmas em Bruges

Fantasmas em Bruges

Paciência. Era preciso esperar. Deixar os dias seguirem o rumo daqueles que o não o possuem. Enfim, livrar-se? "Mas livrar-se do quê?" "Daquilo?!" "O que seria?!" Alan não fazia ideia do que precisava ficar pelo caminho, sabia apenas que aquilo, seja lá o que fosse, deveria ir.


***


Espera sempre ao colchão. Não por muito tempo. Fica ali somente durante as horas de sono, do sono dos outros. Não dorme há meses. A rotina diaria; trabalho, casa, drogas, trabalho, casa, drogas, tomam o tempo da angústia. Mas crê que sentindo a dor em sua potência máxima compreenderá os motivos pelos quais sofre. Crê nisso religiosamente. Mais do que gostaria. Mesmo assim vive e entoa mantras aludindo a tão alerdeada paciência. Faz dez anos que espera categoricamente pelo novo amanhã, mas descobre que enquanto o tempo encolhe para todos se alonga para ele, para suas expectativas no porvir.


Durante as horas que passa debruçado sobre o computador, preenchendo planinhas e mais planinhas, maquiando resultados e desenvolvendo novas estratégias de como fumar um baseado no banheiro coletivo, entre os intervalos, sem que ninguém perceba, é suficiente doloroso para que ele enquanto trabalha ainda pense em sua desgraça invisível. Invisível, porém latente.


Bruges é uma cidade adorável até para aqueles que estão no limite. O convite para viagem veio do diretor comercial como cortesia pelos "ótimos" serviços prestados no ano. Abriu o sorriso e tirou o passaporte para embarcar rumo a seus fantasmas. "Belo lugar para morrer", "Nada como um suicídio na cidade kistch, apelidada de Veneza do Norte", eram pensamentos constantes na primeira semana de sua estada. Ficaria em Bruges por mais duas semanas e não pensava em nada além das tristezas trazidas na bagagem.


O sol brilha muito pouco na cidade belga. Os dias são cada vez mais cinzentos e gelados. Alan desce a rua cansado de todo o tempo que vem gastando com algo metafísico e percebe que talvez a resposta seja ele. Precisa se livrar dele. Remoeu o pensamento enquanto atravessava a praça em direção a torre. São vários degraus até o topo, talvez ficando suficientemente cansado pela subida consega clarear as ideias. Tomou folêgo, subiu degrau por degrau quase em um nirvana. Chegou ao topo. Ofegante, olhou as horas, a cidade abaixo dele, o horizonte perdido e pulou.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sussurros no poente

Na virtude dos passos
o calcanhar invertido anda pra trás
as pernas tentam avançar
e os pés lamentam não obedecer

Na esquina a senhora deita a cabeça
No semáforo as bolas são jogadas para o alto
Abaixo da marquise o papelão serve de cobertor...
os olhos vêem, mas os calcanhares travam

Embora haja leveza, não há sustentação alguma
o corpo cambaleia na imensidão inóspita do âmago
o ser não cai diante do medo
onde nada existe o espaço não pode ser preenchido

O discurso tautológico permeia a ausência
Ausência de vida
Ausência de perspectiva
Imensidão de letargias

Na falta brotam efemeridades
e os devaneios ricos são arrefecidos pela pobreza de conteúdo
A escravidão do consumo retira o ímpeto transformador
Artes são consumidas, não experienciadas

O ser permanece estagnado
Nos passos a vida anda
mas ao se olhar para trás...
enxergam-se os mesmos fantasmas.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cama Surta

dorme vida!
com gostos e sabores...

dorme vida!
com desejos e defeitos...

dorme vida!
com luxúria, prazer...

dorme vida!
com angústia e desespero...

dorme vida!
com mágoa e agonia...

dorme vida!
com sinônimos e heterônimos...

dorme vida!
com bouquet e lástimas...

dorme vida!
com feridas e cicatrizes...

dorme vida!
com fumaça e putrefação...

dorme vida!
na vida e de dia...

dorme vida.
assim,
escondida.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Na rima final (trecho)

sonhei com a morte,
passei dias e dias
pensando se...
eu teria algo a lhe dizer

desci do céu
e de lá ela desceu.
desci do inferno e do inferno...
ela brotou.

chupou com ardor
disse que a comida...
era merda,
se lambuzou.

comi seu rabo...
sujo fiquei,
de pau duro...
gozei.

nada supera o transe
o alívio da tormenta vêm
em forma de...
boceta.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sempre às voltas

O escárnio aliviado por ações menores não trazidas pelo passado, mas sim ressignificadas por um presente que se quer nostálgico. A nostalgia, neste caso, não renovará as esperanças no anterior, mesmo porquê este não era muito lá agradável. Contudo, ainda assim, quer se algo que já não pode ter, não importando, aqui, se as coisas, ou sensações do passado, não eram algo que ele pudesse designar como um apetecimeno saudável.