Fantasmas em Bruges
Paciência. Era preciso esperar. Deixar os dias seguirem o rumo daqueles que o não o possuem. Enfim, livrar-se? "Mas livrar-se do quê?" "Daquilo?!" "O que seria?!" Alan não fazia ideia do que precisava ficar pelo caminho, sabia apenas que aquilo, seja lá o que fosse, deveria ir.
***
Espera sempre ao colchão. Não por muito tempo. Fica ali somente durante as horas de sono, do sono dos outros. Não dorme há meses. A rotina diaria; trabalho, casa, drogas, trabalho, casa, drogas, tomam o tempo da angústia. Mas crê que sentindo a dor em sua potência máxima compreenderá os motivos pelos quais sofre. Crê nisso religiosamente. Mais do que gostaria. Mesmo assim vive e entoa mantras aludindo a tão alerdeada paciência. Faz dez anos que espera categoricamente pelo novo amanhã, mas descobre que enquanto o tempo encolhe para todos se alonga para ele, para suas expectativas no porvir.
Durante as horas que passa debruçado sobre o computador, preenchendo planinhas e mais planinhas, maquiando resultados e desenvolvendo novas estratégias de como fumar um baseado no banheiro coletivo, entre os intervalos, sem que ninguém perceba, é suficiente doloroso para que ele enquanto trabalha ainda pense em sua desgraça invisível. Invisível, porém latente.
Bruges é uma cidade adorável até para aqueles que estão no limite. O convite para viagem veio do diretor comercial como cortesia pelos "ótimos" serviços prestados no ano. Abriu o sorriso e tirou o passaporte para embarcar rumo a seus fantasmas. "Belo lugar para morrer", "Nada como um suicídio na cidade kistch, apelidada de Veneza do Norte", eram pensamentos constantes na primeira semana de sua estada. Ficaria em Bruges por mais duas semanas e não pensava em nada além das tristezas trazidas na bagagem.
O sol brilha muito pouco na cidade belga. Os dias são cada vez mais cinzentos e gelados. Alan desce a rua cansado de todo o tempo que vem gastando com algo metafísico e percebe que talvez a resposta seja ele. Precisa se livrar dele. Remoeu o pensamento enquanto atravessava a praça em direção a torre. São vários degraus até o topo, talvez ficando suficientemente cansado pela subida consega clarear as ideias. Tomou folêgo, subiu degrau por degrau quase em um nirvana. Chegou ao topo. Ofegante, olhou as horas, a cidade abaixo dele, o horizonte perdido e pulou.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
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