segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Capacitor de fluxo envolto em tweed

Foram-se...
Nuvens intercaladas de sol
Ventos gélidos entre brisas suaves
Granizos destruindo granitos

De resto...
Sucatas em meio às tralhas
Amargura seca
Fuligem, fumaça, bronquite, quase asma

Enfim...
Nada de lágrimas
Doces cortinas abertas para o tempo
Olhar ansioso a construir um novo dezembro




quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Protetores auriculares para binóculos

Estado de não querer.
Sempre às voltas com o antigo do novo embalado.

Em certos lugares da cabeça um círculo se desfaz e por caminhos tortos sigo.
Aí vamos nós rodeados por sombras passadas seguindo finitas crenças...
de nós.

Não consigo calar a dor,
e os sentimentos abotoados pelo paletó não estão mais abrigados.
Soltos,
eles se vão,
seguem entre o presente e deixam marcas do que poderá ser o futuro.

E você que me disse que estamos vivendo a vida dos outros...
ainda não percebeu que suas letras mortas já foram proferidas?
Então permaneço no silêncio que incomoda os ouvidos cansados do mesmo dito desesperado,
de quem não encontra o lugar dos vivos,
dos que existem sem o peso de nada ser.

Você de novo vem
e o que fala não escuto,
muitas mentiras foram clamadas sob a luz da lua como verdades imutáveis,
amigo (?)

Veja que não mais nos entendemos,
eu que não escuto e você que não enxerga.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Oníricas fantasias


sinto dizer que o tema passado
saiu da pauta com termos negados

ju nos veio com os braços cortados
eu não me importo, não nos importa

raquel nos disse mais sobre tiago
cocaína, mais cocaína

voando enquanto caio sem mãos
estou no alto e estou no tom

vestidos longos sem chorar
selvagens a dançar
conversas em mezcal
duchamp sem urinol

o escocês esqueceu o traje
o que fazer, o que dizer, o que ouvir

ju voltou sem nenhum corte
olhei em volta... caracóis com sorte

a folha em branco merece aplauso
está aberta, está aberta

piscina e um nu me pagando um
me mexo pouco, me molho todo

estou alto e louco
case e fique seco
doses altas pra um enfermo
duchamp preso num banheiro

eu vejo preto e branco
não toque em nada
não mude nada

segure firme e nade
me abrace e tome um valium

na esteira um reboque
dois toques, um lorde

não largue a mão por nada
destrua-me
me ponha em cacos

não largue a mão por nada
destrua-me
me ponha em cacos

mais alto, mais álcool

venha mais perto de novo
venha ver os anjos
quanto tempo separados

mais alto, mais álcool

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Olhares

O aproximar da manhã não deteve o ímpeto. As luzes já não faziam sentido acesas, as pessoas rumavam ao trabalho e ele, mais uma vez, estava ali, deitado na garagem. A música tocava alta, as garrafas estavam quase todas vazias. As cápsulas com pó já haviam sido cheiradas com esmero. Todo o branco estava guardado no caminho das narinas aos pulmões. Ao seu lado ninguém para falar, apenas pilhas de discos, livros, uma geladeira velha, sujeira, sobras de madeiras, dois cinzeiros, três maços de cigarros vazios, um pela metade, duas cadeiras, um banquinho, o controle remoto do som, o violão, dois abajures, e uma camisa jogada. Ele caído, não se importava com o dia, com o que pudessem dizer sobre ele, sobre como se portava. Gostava do frio dos ladrilhos do chão. Sentia-se confortável neles, tragando o cigarro levemente. Sempre achou que nunca cresceria, mas sempre soube da verdade. Estava cada dia mais velho, com mais responsabilidades, com mais dinheiro e com mais vícios. Aos trinta e dois tudo parecia trazê-lo para os dezesseis, assim como quem perde metade da vida. Ao se movimentar, lembrava quando fazia isso na casa dos pais, quando esses viajavam no fim de semana. Sempre sozinho, se expor nunca foi seu forte, brincava de se esconder na garagem e usar todas as drogas que pudesse adquirir. Nessa época os cachorros ainda lhe davam a esperança de dias melhores. Hoje nem isso possui. Deita sozinho e finge que o presente é o passado, não pela nostalgia. Acredita nos sonhos da época, atualmente gastos. Se lutou durante os anos subsequentes foi por mera falta de tato, pensa. Nada poderia vir de bom daquele ser. Fadado ao fracasso, pois assim quis crer, deixou-se contaminar por ínfimas mazelas. Não sabe ele que quando tirava o carro para dar voltas e mais voltas pelo estado com os amigos era admirado pelo humor e inteligência. Nunca parou para refletir sobre suas conquistas e se agarrou como nunca em pequenas derrotas, se julgou derrotado antes de levar o primeiro soco. A fraqueza o manteve inerte. Esqueceu dos dias de sol, das maravilhas de ter crescido sem um arranhão e ter feito de tudo para acumular mais que três ou quatro traumas sérios no organismo. Sem contar nos dias em que sorriu e se divertiu como se não houvesse amanhã, sem se deixar incomodar por nada. Trabalhou e trabalha não só para o sustento. O labor permite-lhe diversões e uma vida agradável. Para ele tudo isso pouco importa, o chão é onde deve estar, segundo sua cabeça. Não que não possa também estar nele. A ideia é que lhe grudou igual piche. Asfalto quente e pegajoso sugando o corpo. Um buraco negro achatando toda sua massa corpórea.

- Venha, vou buscar um pão. Já está de dia. Fazem mais de dezoito horas que não coloca nada no estômago.Vamos, levante.

- Me deixe. Estou bem aqui. Tá escutando. É o barulho da agulha. Preciso trocar o disco. Esse já era. Calma aí. Vou pegar mais uma cerveja e um cigarro. Esse som vai te fazer pirar.

- Por hoje chega. E o trabalho?

- Tô de licença médica. O psiquiatra que me passou. Preciso desse tempo pra me recompor. Porra. Tu não sabe de merda nenhuma e tá me enchendo. Vai tomar no cu. Me deixa aqui.

- Cara, tu tá tão louco que tá tendo alucinação. Tu tá falando contigo. Esse sou você.

- Foda-se, cala a boca então.

Música alta mais uma vez. Corpo cambaleante. Luzes apagadas. Dez da manhã. Ele dança. Canta. Não há espaço para choro ou lamentação. Conformou-se com o estado atual das coisas. De fato possui mais dez dias de atestado e assim quer passá-los. Isolado do mundo. Com drogas, música, literatura e cinema na cabeça. Uma decisão tomada. Boa ou ruim ainda é uma escolha. Já subiu em árvores com medo de apanhar. Já pulou muros para roubar cana de açúcar na infância. Já arremessou garrafas vazias em bancos. Já foi um atleta. Já escreveu contos, poemas, canções. Já viajou, se mudou, leu e estudou mais que muitos. Já morreu e nasceu tantas vezes. Mas nunca deixou de ser uma coisa, triste. Nem ele sabe os motivos.

- Qual o motivo da sua tristeza? (psiquiatra)

- Não tenho ideia. Me habituei a ela e ela a mim. Nos tornamos amigos e não deixo amigos na mão. (ele)

- O que te fez amigo da tristeza? (psiquiatra)

- Sempre flertamos. Acho que ela possui algum tipo de beleza. A dor me permitiu esconder de muita coisa. De mim principalmente. Tenho medo do que posso ser, e do que imagino ser. Talvez por isso me agarre a ela, pois sei que com ela não precisarei ser nada. (ele)

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Posteriores

finjo cair desajeitado...
aleijado, castrado, sufocado.

insisto em fingir encabulado...
prostrado, maculado, nauseado.

desisto de mentir sobre os fardos.
amordaçado,
caio morto.

domingo, 4 de agosto de 2013

Íris

cabeças ao redor
encolhem
recolhem
clamam pelos pescoços soltos

vieram três corpos
todos perdidos
atabalhoados
não havia nada acima do dorso

um deles foi ao chão
buscou a perna do outro, que
parou, ajudou-lhe a erguer
seguiram como corrente

suas cabeças estavam em minhas mãos
cobria-lhes os olhos
assustariam se vissem suas partes a procurar
assustaram-me

o que fazer com aquilo?
o sangue estancado
os cortes precisos
seria preciso algo...

meus olhos tremiam,
sem chorar ou gritar,
percebia a inquietação no ranger dos dentes,
na aceleração do piscar.

deixo-as aqui?
entrego-as em mãos?
suporto?
tenho algum tempo até passarem.

caminho até os corpos
e coloco, cuidadosamente, as cabeças no chão
estão no meio do caminho
mais dois passos... tropeçam

deixo e assisto de longe
os corpos caem
todos os três
todas as cabeças olham fixas para eles, como quem faz um pedido

subo em uma árvore
de cima a visão é ainda mais onírica
rastejam até as cabeças
tateiam-as, como para saber se são suas e, então, descartam... uma a uma

sofro com a dor daqueles que não se pertencem
desço da árvore
calmo
junto as três e levo-as comigo

em casa, no quarto, deito com elas
perguntas fiz, mas não podem pronunciar uma só palavra
lhes faltam o ar, lhes faltam o restante da traqueia
lhes faltam todo o resto

disfarço o desconforto
vou à cozinha
volto com três facas afiadas
uma para cada uma

pego uma seringa
dissolvo 70mg de Valium para cada uma delas
injeto em suas fontes... elas, agora, dormem para sempre
quanto a mim, tento extrair de suas íris um pouco de vida para injetar na minha



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Significante, significado, significações

roliço,
calvo,
ausente...
mãos nos pés e boca no sexo.

saliva,
pele,
contato,
dente escondido e lábio melado.

líquido,
branco,
quente...
porra na boca e pentelho no sabonete.