cansado dos diversos rostos a se contorcerem à sua frente foi-se deitar. tentou se esquecer dos barulhos da sala e se concentrar de vez por todas nas voltas que sua cabeça dava ao redor de seus olhos. aquilo era algo extremamente precioso e não poderia ser perder por conta de infortúnios exteriores. deixou-se levar.
quanto daquela noite ainda havia ali? quanto daqueles gestos haviam ficado estagnado no corpo e no olhar? não era isto que gostaria de pensar. “mas poderia sê-lo”, indagou. já se foram alguns pedaços da hora, que antes estava cheia, e ele ainda está lá, tentando concentrar seus esforços para perceber sua cabeça girando à sua frente. é importante considerar que já não havia nele, naquele momento e vários atrás, condição alguma de sobriedade. Seria difícil se concentrar em qualquer coisa, o que dirá em sua própria angústia alcoolica, como está tentando fazer.
de fato não eram só as diferentes formas de alcool ingeridas nesta noite, mas também eram os traços da outra noite que estava a remoer. algo ainda estava nele, mas não tinha certeza exatamente do que poderia ser. não tinha certeza de muito de suas memórias. lembrava-se, apenas, que havia tido bons momentos. quantos? por quanto tempo? com quem? ainda estava vago.
e como um suspiro, desceu sobre ele o sono. entre a vigília e o descanso restaram as lembranças de um adormecer ainda não completo. de súbito, abriu os olhos. tatou o ar como se ainda estivesse a sonhar. tentou se lembrar onde estava. tentou reconhecer os móveis ao seu redor. e quando estava certo do lugar ao qual ocupava, os ventos daquela noite sopraram-lhe os ouvidos. entorpecido pelas lembranças que só agora afloravam e pelas vontades de outrora guardou os próximos suspiros para o dia em que viria novamente ter as sensações daquela noite em seu corpo e em seu olhar.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
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