terça-feira, 8 de dezembro de 2009
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Embora ainda constate que o tempo seguiu seu rumo e que o espaço se transformou e que permanece se transformando, a vida em si tem mudado pouco. (continua)
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Passagens
a distância separou,
a falta preencheu o âmago,
a inércia se achou.
e todos aqui a deitar...
e as lentes fora do lugar...
e as gargantas a estourar...
e as cortinas a rasgar!
no fim, a apatia deu lugar...
no meio, a tristeza se acomodou,
no início...
não se sabia como se estaria no fim...
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Quem poderá dar lugar à mesquinhez que o acomete?!
entristesse-se com suas conquistas
esquecesse-se de si
contempla a si com a mesma distância que inveja o outro
quer o outro
não consegue alcançar as mesmas vitórias
perdeu-se em si
labirintos formados e nós que não pode desatar
precisa do outro
repostas que só quem tem um lugar ao sol pode dar
acreditou em si
pensava que o mundo desse voltas e por elas o outro fosse esmagado
quer a morte do outro
não deixa a mágoa deitar-se nas ondas e fluir
sucumbe-se ao delírio
precisa ser maior que aquele que lhe feriu
quinta-feira, 23 de julho de 2009
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Casas minhas, minhas casas
lugar de descanso
casa de loucos:
lugar para se estar
casa de estranhos:
lugar pra beber
casa de tatu:
lugar do inferno
casa de orvalhos:
lugar para cheirar
casa das putas:
lugar pra gozar
terça-feira, 21 de julho de 2009
Mula sem cabeça
Lamenta a intenção dos bem intencionados
Discorre sobre o tempo sem deste saber
Sonha com asas sem ao menos saber andar
E quem dirá...
o sol se apagou no horizonte?
E quem irá...
dar a chama para que possa voltar a brilhar?
Inventa sabores para o olfato gasto
Leva armadilhas em sacolas vazias
Vislumbra o novo sem nunca ter tido o velho
Desce dos céus sem jamais lá ter estado
E quem virá...
mostrar-lhe que o dorso pode não ser belo?
E quem dissipará...
as ferrugens impregnadas das cordas desafinadas?
A vida não se fará
Os laços não desatarão
O Outro não agirá
e a vida, tomada, permanecerá caminhando sem as pernas de seu corpo
Telas pintadas sem tintas
Luvas absorvem o medo
Cavaleiros carregam suas espadas
E no canto baixo do quadro a baia pega fogo
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Um risco preto corre sobre o branco
Círculos perfazem o abajur aceso
O azul permanece inerte
E no alto do quadro as lembranças se transformam em cinzas
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Pela porta entra o mouro
Mãos carregam a bandeja que será posta à mesa
Fiéis aguardam o desjejum
E no canto esquerdo do quadro, no altar, um deus travestido em fome
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A feira está parada
Alguns comerciantes olham para a maçã marrom
A mulher, de semblante preocupado, disfarça com o pepino na mão
E na penumbra do quadro, onde o sol encontrou abrigo, um homem se entrega ao gozo
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Às pinturas,
Aos jocosos,
Às pseudo artes,
Aos artistas,
Aos médicos,
Aos jornalistas,
Aos faxineiros,
Aos engenheiros,
Às putas.
Sempre haverá um pouco mais de vida...
quando pela memória se deixar enganar,
quando pelo sonho se deixar consumir,
e quando pelas cores, dispostas em seres e,ou, objetos, se deixarem narrar.
terça-feira, 21 de abril de 2009
Nublado
Desabou. Pensou estar sentado em mais um desses bares onde ninguém se conhece, mas todos se cumprimentam; contudo não estava. Estava sentado em seu sofá embriagado pela sua existência, perplexo entre a vigília e o real quando de súbito perdeu os poucos sentidos que ainda lhe restava. Submerso, preso em seu próprio mundo de sonhos grotescos e imagens sombrias. Onde estava dentro de suas próprias sensações, incontroladamente disparadas por desejos vazios. Sendo assim foi mais fundo em sentidos antes inabitados. Caminhou por entre pés de oliva que ainda estavam a florescer.
A aurora lhe chegou cinzenta entre a vegetação verde e o cimento que crescia a poucos metros dali. A cidade acordava aos sons das urgências das ambulâncias, carros de polícia, britadeiras, gritos por socorro em um estupro numa esquina remota, brigas de casais, bebês chorando, crianças agonizando e homens silenciosos cansados da rotina de subir e descer as mesmas ruas por onde suas almas já jaziam há muito.
No campo, em meio a prédios e ruas, a geladeira aberta dava a entender que o calor poderia ser superado pelo gelo que brilhava dentro do congelador agora aberto. Gelo sem uísque não serve, pensou. A garrafa de Jack Daniels estava entre as folhas e os frutos de oliva, deitada, descansando na terra.. Pegou-a. Deixou que aquele líquido rasga-se seu corpo. Pediu, implorou para que aquele líquido o consumisse.
As amarras vieram. Deitaram-se ao seu lado. De tanto se olharem, conversaram. As amarras comentaram baixo, sutil em seu ouvido esquerdo, que elas eram desnecessárias. Por que não vão embora, então; perguntou. Quem nos criou e quem nos alimenta é você. Só você pode fazer com que o deixemos; retrucaram. Não posso...se me desfizer de vocês nada mais terei; respondeu ele meio atordoado.
Os dias se sucederam na plantação de olivas. Ele já não era mais aquele de antes depois de tanto inércia que os dias ali, naquela vegetação, trouxeram. Deixou as enfermidades de lado, os olhares perdidos e a vontade de escapar para trás. Fez das olivas sua nova morada. Não queria mais, como anteriormente, resgatar sua vida que estava por aí a vagar em algum sítio, mas sim queria deitar sua cabeça na relva que hoje parece um pouco mais doce que antes e esquecer-se de viver. Esquecer-se do que é necessário e contemplar apenas o entardecer de mais um dia sem saber se para ele um novo chegará.
* escritos em itálico por Fernando Chinaskisexta-feira, 17 de abril de 2009
Se's
se se transpõe sem exatidão,
se se mede o tempo com ansia,
se se prende em lanços senis,
se se ilumina sem luz,
se se vê com os olhos dos cegos,
faz-se efêmero o grão plantado na alcova em que jaz.
se se move sem movimento,
se se deita em relvas sem relvas haver,
se se presta a caminhar sem direção,
se se cobre de dúvidas sobre as dúvidas,
se se semeia o grão já morto,
se se vale do imprevisível,
faz-se vento na inércia do viver carcomido e traz úmidade para o deserto desalmado.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Dançando na lua
deve haver um outro modo de esquecer,
deve haver um outro jeito.
cabe decidir...
se deixa tudo aqui,
se guarda tudo lá.
sábado, 4 de abril de 2009
Panacéia
ligações anteriores dadas através das querelas subjulgadas.
maneira cabal da morte...
polígonos na transversalidade.
luxúria.
hedonismo.
rasgados foram os trapos nos lugares feios escondidos na escuridão...
tudo era o ontem e a célebre aurora trará uma nova manhã.
maneira cabal da vida...
linhas horizontais paralelas.
hedonismo.
luxúria.
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Ainda há (?!)
caminhos por fazer,
lugares para abarcar...
sereias?!
para onde foram as notas?!
"vagos destinos a almejar..."
lembranças caras,
pormenores rasos.
e se houvessem mãos?!
"disputas por rostos desconhecidos..."
e se houvessem vagas?!
deitado estaria o louco sob o cantar...
fins!
"por onde andarão os meios?"
"por onde andarão?"
finitos.
restaram aqui as cantigas de outrora,
com passos que se acabam sem cessar;
difíceis traumas...
sobrou tormentos.
escadas...
quedas em bares pela madrugada.
alicerces...
beijos rápidos por algum motivo
instantes esparçados:
limiar.
instantes ultrapassados:
libertar.
e as ruas seguem...
e aquilo que se quer,
e aquilo que não se sabe,
lutam com semblantes tranquilos do novo viver.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Dos meus
acuado, leproso, sorumbático,
por entre ventos e vinhedos,
por entre poças de vinhos tinto.
caído no chão público,
louco, molhado, desmemoriado,
entre gritos altos e mordidas vorazes,
entre aranhas ansiosas por carnes.
de peito aberto para o céu chuvoso de ninguém,
amargo, cansado, fracassado,
deixo entrar os garfos e orvalhos,
deixo penetrar os raios e os galhos.
deitado de lado admirando o cair das gotas,
inerte, obcecado, vago,
como um pervertido e desvairado,
como um inútil desgraçado,
como um dente alho amassado,
visto o paletó surrado e cantarolo a marola entoada pelos traumas... de ninguém.